GT7 - ÁREAS VERDES
LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA
MAIO/2024
Índice
LEITURA TÉCNICA-ANÁLITICA DO GT7 - ÁREAS VERDES E FAUNA
Índice
Introdução
O Grupo de Trabalho 07 (GT7) trata da análise técnica-participativa do meio biótico (árvores urbanas, hortas, jardins, parques, pomares, animais vertebrados e invertebrados); das reservas ecológicas; das leituras interpretativas das áreas verdes para o conforto ambiental urbano, como ilhas de frescor e espaços livres para o uso e visitação da comunidade; do registro das espécies de fauna local para o monitoramento, preservação e estudo; da identificação de espécies transmissoras de doenças e animais selvagens e introduzidos; do monitoramento e conservação da flora; e da elaboração de um plano de arborização com as espécies mais frequentes e adequadas para o ambiente. A metodologia adotada pelo grupo compreende diversas etapas e inclui a leitura crítica dos dados disponíveis, sistematização dessas informações e definição de diretrizes claras e objetivas, bem como a previsão de indicadores que possam orientar a implementação eficaz de ações futuras. Diante do exposto, o objetivo do GT7 é contribuir para a elaboração de iniciativas sustentáveis voltadas às questões e potencialidades do campus alinhadas aos princípios e metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
A leitura técnica-análitica, aqui apresentada, baseia-se nos problemas (desafios) e potencialidades (virtudes) elencados tanto pela equipe do GT7, como pelas contribuições dos diversos atores da Comunidade USP que participaram das oficinas do Plano Diretor conduzidas no mês de abril de 2024, associados aos temas técnicos áreas verdes e fauna. Destaca-se que o envolvimento da comunidade acadêmica expressa preocupações, percepções e opiniões sobre as condições atuais do campus, fundamentais na busca de soluções para as demandas, bem como o aproveitamento das virtudes apontadas (qualificadas e/ou quantificadas).
ANÁLISES: TÉCNICA E DAS OFICINAS PARTICIPATIVAS
Para facilitar as análises, foi elaborado um gráfico com as contribuições da comunidade sobre áreas verdes e fauna, baseado na sistematização dos principais problemas e potencialidades que surgiram durante o desenvolvimento das oficinas. Ressalta-se que para uma melhor visualização das informações, optou-se por utilizar uma codificação das descrições dos assuntos no eixo vertical, em vez dos relatos descritivos, que são apresentados em uma tabela.
Nota-se, em uma análise inicial, que o relato D11 (falta de cuidado e manutenção periódica das áreas verdes) foi o assunto mais citado pela comunidade, seguido pelo relato D7 (espaços e caminhos mal arborizados), respectivamente, com 41 e 38 menções de 327.
Após a análise dos dados obtidos no processo participativo, foi realizada uma análise técnico-crítica, agrupando os assuntos em eixos temáticos. As primeiras cinco temáticas (T1 a T5) reuniram cerca de 80.4% das contribuições. Sendo que a temática T1: planejamento, conservação e manutenção das áreas verdes, foi a mais abordada, com 38.1% das menções. Este eixo temático inclui, não só os relatos D7 e D11, citados acima, mas uma grande parcela dos assuntos que surgiram durante o desenvolvimento das oficinas participativas presenciais.
Em seguida, observa-se que as temáticas: T2 “espaços livres (convivência e mobiliário urbano)”; T3 “orientação, proteção e preservação da fauna”; T4 “educação ambiental” e T5 “conforto ambiental urbano” correspondem a aproximadamente 19.8%, 9.2%, 6.8% e 6.5%, respectivamente, dos assuntos mais mencionados nas oficinas participativas.
A seguir, são apresentadas as discussões detalhadas e integradas dos resultados.
Planejamento, Conservação e Manutenção dos Espaços Livres
Salienta-se que a CUASO é um oásis dentro da Região Metropolitana de São Paulo com um total de 924.836 m2 de áreas comuns verdes e ajardinadas, mais de 100.000 m2 de reservas ecológicas e aproximadamente 33.000 árvores.
Logo, percebe-se a necessidade iminente de um planejamento eficaz dos espaços livres do campus associados a diversos fatores, dentre os quais se destacam: (i) conservação da biodiversidade, propiciando espaços adequados para a fauna; (ii) sustentabilidade socioambiental; (iii) utilização dos espaços como laboratórios vivos para educação e pesquisa. Para elaborar o documento foi formado um grupo de trabalho de pesquisadores especialistas em assuntos sobre áreas verdes e fauna (GT7), e que posteriormente foi integrado à equipe técnica do Plano Diretor (em desenvolvimento).

Primeiramente, destaca-se que os problemas e potencialidades apontados na leitura técnica também foram apontados nas oficinas participativas e são apresentados a seguir.
A presença de árvores de grande porte frequentemente causam problemas como quedas de galhos e as raízes soerguidas em pavimentos prejudicam a mobilidade. Em casos extremos, as próprias árvores podem cair. Além de plantios inadequados e/ou não autorizados da arborização urbana. Os riscos e danos à comunidade e ao patrimônio associados à poda, à manutenção do gramado e à supressão de árvores são citados nas fichas das oficinas participativas, tanto como a “necessidade de padronização e calendário dos processos de poda” (3 fichas) e a “falta de cuidado e manutenção periódica das áreas verdes”, esse último com 41 impressões. Além disso, a supressão de árvores que estejam com a saúde comprometida é um assunto que também foi elencado nas oficinas, predominantemente com as contribuições descritas como “necessidade de estudo fitossanitário das árvores de grande porte” (13 fichas).
Ressalta-se que deve ser mantida a cobertura arbórea e também priorizar um plantio compensatório de árvores “resilientes” e adequadas para a coexistência de todos. Face ao exposto, é importante lembrar que há uma minuta da Resolução que institui a Política de Áreas Verdes e Reservas Ecológicas da Universidade de São Paulo criada em 2016, no entanto, ainda não foi implementada.
Acrescenta-se a necessidade de um inventário arbóreo que possa dar suporte efetivamente à política ambiental, o que foi abordado também nas oficinas com sete fichas que descrevem a “falta de sinalização e identificação das espécies florísticas” correlacionados a esse assunto. Vale salientar que o inventário permite compreender a complexidade das áreas verdes e é essencial para identificar quais as prioridades de intervenção e assim, contribuir de forma efetiva para a gestão de florestas urbanas.
De acordo com as informações disponibilizadas pela Prefeitura do Campus, na Raia Olímpica foi realizado um inventário, que resultou na identificação de 87 árvores. Além disso, há um projeto paisagístico para a implementação de um corredor ecológico que contribuirá para a melhoria da qualidade ambiental. Embora existam essas ações, o campus necessita de um mapeamento completo das árvores, que possa facilitar o planejamento adequado no que tange, por exemplo, a “necessidade de aumentar a diversidade de espécies florísticas” (19 fichas).
Duas contribuições interessantes, embora conflitantes, se referem aos “espaços e caminhos bem arborizados” (10 fichas) e “espaços e caminhos mal arborizados” (38 fichas). As virtudes evidenciam como o campus é um diferencial se comparado ao entorno. Já as demandas, ressaltam que em alguns locais do campus ainda há espaços ociosos (estacionamentos) e caminhos com ausência de cobertura vegetal (Praça do Relógio) que prejudicam diretamente a mobilidade, bem como a convivência local.
Reservas Ecológicas e Controle das Espécies Invasoras
É importante salientar que o campus possui fragmentos florestais e áreas de conservação que refletem a diversidade de ecossistemas brasileiros, como a Mata Atlântica e o Cerrado. No entanto, enfrenta desafios associados principalmente à remoção de árvores exóticas, mencionados também nas oficinas participativas: “necessidade de controle da presença de espécies invasoras” (16 fichas). Vale lembrar que as exóticas e invasoras causam impacto ambiental na nutrição da fauna local. O fruto da palmeira australiana, por exemplo, é uma alimento para aves, mas a sua presença exclui outras espécies vegetais nativas.
A Reserva Florestal do Instituto de Biociências foi considerada uma área de preservação em maio de 1973 e também a primeira, das cinco áreas delimitadas como “Reservas Ecológicas”, por meio de Portarias e Resoluções: (i) Portaria GR 5.648 de 05 de junho de 2012 (Dispõe sobre três áreas de Reservas Ecológicas na CUASO com um total de 5,58 hectares); (ii) Resolução USP 6.577 de 19 de junho de 2013 (Regulamenta e delimita as três áreas de Reservas Ecológicas na CUASO); (iii) Portaria GR 6.912 de 20 de junho de 2017 (Declara área do Viveiro de Mudas da PUSP-C como Reserva Ecológica com 10 hectares).
Destaca-se que o artigo 1º da Portaria GR 5.648/2012 estabelece: “Ficam declaradas de caráter de preservação permanente e destinadas apenas à conservação, à restauração, à pesquisa, à extensão e ao ensino as áreas situadas nos campi da Universidade de São Paulo denominadas “Reservas Ecológicas da USP”.
Outros assuntos mencionados nas oficinas associados aos problemas e potencialidades das reservas ecológicas: (i) necessidade de implementar uma política de turismo ecológico (2 fichas) e (ii) iluminação e insegurança (4 fichas).
Espaços Livres para Lazer e Ocupação
Esta temática foi a segunda mais mencionada nas oficinas participativas e os principais assuntos abordados foram: (i) aproveitamento das áreas verdes para atividades das comunidades interna e externa (33 fichas); (ii) necessidade de aumento das árvores frutíferas no campus (16); (iii) aproveitamento das áreas verdes para criar espaços convidativos de lazer e convívio (11 fichas); (iv) falta de espaços recreativos associados ao uso da água, fontes ou espelhos de água (11 fichas); (v) necessidade de ampliação das hortas no campus (7 fichas) e (vi) necessidade de facilitar a locomoção por meio das áreas verdes (6 fichas).
Diante do exposto, os dados obtidos do processo participativo confirmam o problema e potencialidade identificados na leitura técnica: (i) impacto das ações humanas resultantes da interação da comunidade e visitantes nas áreas de uso ou visitação e (ii) uso dos espaços verdes (jardins, parques, hortas comunitárias, pomares etc.) com possibilidade de promover o bem estar da comunidade.
Monitoramento, Proteção e Preservação da Fauna Local
Dentre as virtudes associadas a esta temática, se destacam: (i) a revisão da política ambiental para a fauna, que já foi elaborada, no entanto precisa ser implementada, e (ii) a conservação das reservas ecológicas, como medidas de proteção, para garantir a sobrevivência das espécies faunísticas. Quanto às demandas, as principais se referem a: (i) carência de sistemas de monitoramento da biodiversidade da fauna local; (ii) programas de preservação da fauna (criação de refúgios ecológicos e restauração de ecossistemas degradados) e (iii) ausência de inventário faunístico.
Vale ressaltar que o levantamento de dados obtidos nas oficinas corrobora a leitura técnica, como pode ser observado pelos principais assuntos mencionados: (i) necessidade de aumento de árvores frutíferas no campus (16 fichas); (ii) faltam informações sobre a fauna e indicação de cuidado (14 fichas); (iii) necessidade de corredores ecológicos para a proteção da fauna (12 fichas). Outros assuntos mencionados: (i) presença de população de saguis; (ii) alimentação indevida da fauna e (iii) necessidade de aumentar a incidência de aves.
É importante destacar que em relação aos dados das áreas verdes, embora haja um número expressivo de estudos sobre a fauna no campus, observa-se a necessidade de mais dados georreferenciados.
No livro “Aves no Campus” são descritas 152 espécies de aves.
Quanto a biodiversidade faunística, o Projeto “Fauna da USP – CUASO”, construído a partir de contribuições feitas pela comunidade, apresenta cerca de 1610 espécies observadas no campus (anfíbios, aracnídeos, aves, insetos, mamíferos, répteis etc). Desse levantamento, 843 espécies são categorizadas como nível seguro de pesquisa no GBIF (Sistema Global de Informações sobre Biodiversidade).
Monitoramento e Manejo Adequado da Fauna Sinantrópica
De acordo com a leitura técnica, este assunto está intimamente associado (i) à necessidade de estratégias para o controle e manejo adequado da fauna sinantrópica, incluindo ações para evitar a proliferação de animais como ratos, baratas, escorpiões etc; (ii) monitoramento de doenças e seus vetores, intensificando campanhas de conscientização sobre a importância da eliminação de criadouros de mosquitos, bem como a implementação de medidas preventivas para controlar a proliferação de vetores de doenças, como o combate ao mosquito Aedes aegypti (vetor do vírus DENV, agente causador da dengue) e ao barbeiro (vetor do protozoário Trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas) e (iii) a falta de controle frequente da desinsetização e desratização das edificações.
As fichas preenchidas nas oficinas confirmam as demandas da comunidade, conforme pode ser observado pela contribuição dos participantes: (i) falta de controle de vetores e de população de animais no campus (4 fichas); (ii) não há rotina de vigilância de criadouros do mosquito (7 fichas); (iii) presença de escorpiões, aranhas e roedores (10 fichas) e (iv) presença de insetos potencialmente perigosos (4 fichas). Cabe destacar que, o controle de vetores aparece no levantamento, no entanto é realizado pela PUSP-C.
Animais Abandonados e/ou Ataques de Cães Ferais
Um grande problema identificado pela leitura técnica refere-se ao abandono de animais no campus e ataques de cães ferais, que também foi mencionado pela comunidade, durante o desenvolvimento das oficinas participativas (8 fichas).
Conforto Ambiental Urbano
A temática conforto ambiental urbano tem relação com Ilhas de calor, fenômenos que ocorrem principalmente em espaço urbano. No entanto, o campus CUASO é considerado uma grande área de frescor em relação ao seu entorno.
Na leitura técnica ressaltou-se o desconforto térmico associado a diversos fatores, dentre os quais se destacam: (i) falta de arborização em determinadas regiões do campus (estacionamentos, Praça do Relógio etc); (ii) cobertura vegetal incipiente em estacionamentos e na Praça do Relógio; (iii) excesso de concreto etc.
Acrescenta-se que os dados obtidos nas Oficinas Participativas evidenciam a leitura, conforme assuntos mencionados pelos participantes diretamente relacionados à temática: (i) conforto ambiental urbano (36 fichas) ou ainda, indiretamente relacionados: (ii) necessidade de qualificar e ampliar as coberturas para pedestres (4 fichas).
Educação Ambiental
Na leitura técnica foi abordada a necessidade de programas de educação ambiental a fim de sensibilizar a comunidade sobre a importância da conservação do meio, bem como a coexistência harmoniosa com a fauna local.
Os dados obtidos nas oficinas participativas confirmam a leitura, como pode ser verificado dentre os principais assuntos mencionados: (i) acúmulo de lixo orgânico, galhos e podas (4 fichas); (ii) ausência de ações que favoreçam a implantação de serviços ecossistêmicos ( 3 fichas) e (iii) falta de cursos, treinamentos e campanhas informativos sobre a fauna (2 fichas).
CONSULTA ONLINE
O levantamento de dados online evidencia que a temática “planejamento, conservação e manutenção das áreas verdes” também foi a mais abordada (36,6%), seguida pela temática “espaços verdes: convivência e mobiliário urbano” (26%). Já a terceira temática mais mencionada está associada ao “abandono de animais e/ou ataque” (17,1%), que diverge da quantificação tabulada para as oficinas participativas presenciais, na qual teve em terceiro lugar a temática “orientação, proteção e/ou preservação da fauna”.
INTERSECÇÃO COM OS DEMAIS GRUPOS DE TRABALHO
Nesta seção, foi realizada uma análise de correlação dos dados obtidos nas oficinas participativas no GT7 com os demais GTs:
A temática que apresenta uma maior intersecção com as áreas verdes e fauna foi a da convivência, com 36,2%, e se destacam assuntos associados à criação de novos espaços de convivência e socialização nas áreas verdes do campus, como praças e espaços arborizados. Esses espaços são vistos tanto como uma potencialidade, pela abundância de áreas verdes que facilitam a convivência entre os membros da comunidade, quanto como uma problemática, devido à carência de tais espaços em algumas áreas. Além disso, a adoção de programas e atividades sobre educação ambiental foi sugerida para facilitar o entendimento da biodiversidade no campus.
A segunda temática com maior intersecção refere-se ao patrimônio, com 27,7%, e evidencia a necessidade de um inventário do patrimônio natural/ambiental da CUASO. Esse inventário viabiliza a implementação de ações voltadas para o ensino, pesquisa e extensão, assim como para os serviços ecossistêmicos.
A mobilidade foi a terceira temática com mais intersecção (17,7%) e está associada principalmente à criação de caminhos arborizados para pedestres e ciclistas, compatíveis com o transporte público e privado. Essa medida propicia a melhora da estética e da mobilidade urbana, como a qualidade do ar e o conforto ambiental urbano. É essencial que a arborização seja planejada para evitar danos às calçadas e garantir a mobilidade.
A intersecção com a temática Água refere-se a 7,7% e trata da poluição das nascentes dentro do campus, bem como os locais de inundação (presença de escorpiões) e a necessidade de monitorar os criadouros de mosquitos. Além disso, evidencia a integração de políticas ambientais para proteger os recursos hídricos.
Na relação com a temática resíduos (6,2%), observa-se a necessidade de coleta adequada dos resíduos gerados pela poda de árvores, bem como a utilização em projetos de pesquisa.
Por fim, a temática energia teve 4,6% de correlação e permeia dois pontos: (i) iluminação do campus de forma a torná-lo mais seguro, considerando a presença das reservas ecológicas, e (ii) sustentabilidade climática do campus, que envolve a conservação e/ou implantação de mais áreas verdes para enfrentar as mudanças climáticas e assim reduzir a dependência de ventiladores e ares condicionados.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A correlação da leitura técnica com as contribuições das oficinas participativas (presenciais e online) corrobora a produção de um plano diretor mais eficaz que possa intensificar a implementação de práticas e estratégias adaptativas e assim, diminuir os impactos ambientais gerados na interação do ser humano com as demais espécies da biota do Campus, considerando uma coexistência harmoniosa e principalmente, a adaptação dos eventos catastróficos associados ao aquecimento global e, consequentemente, mudanças climáticas.