LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA
Esta é uma versão preliminar de trabalho, portanto, sujeita a novas e necessárias considerações, revisões e aprimoramentos nos próximos meses.
O objetivo da Leitura Crítica Técnica e Participativa é avaliar o estado atual do Campus em relação a seus espaços comuns — na sua relação com os espaços construídos, à infraestrutura existente, à convivência e aos processos de gestão destes espaços e infraestruturas, tendo em vista as questões que tensionam hoje as formas existentes, assim como os desafios que se apresentam para o futuro. A consolidação desta leitura é fundamental para a fase seguinte do processo, que é a elaboração de propostas, que deverá ocorrer no segundo semestre deste ano.
ACESSE OS RELATÓRIOS DA LEITURA CRÍTICA DE CADA GRUPO DE TRABALHO (GT)
O objetivo da Leitura Crítica Técnica e Participativa é avaliar o estado atual do Campus USP Capital Butantã em relação a seus espaços livres e edificados. Tendo em vista as tensões que estes temas apresentam hoje e os desafios para o futuro, nessa avaliação são examinadas as condições da infraestrutura existente, as qualidades e deficiências para a convivência e atividades da universidade e a forma como está estruturada hoje a gestão. Esta síntese é a versão preliminar desta consolidação, fundamental para poder construir uma base para a discussão das propostas, no segundo semestre, mas ainda será objeto de detalhamento, revisão e edição, o que deverá ocorrer até o mês de julho de 2024.
Considerando o momento em que o Plano está sendo elaborado, as mudanças climáticas e seu enfrentamento, assim como os novos desafios de inclusão e pertencimento em curso na Universidade, ganham centralidade os princípios da responsabilidade ambiental e social, o tema da transição energética justa, da adaptação às mudanças climáticas, buscando inovação e qualidade de vida. O Plano Diretor do Campus Butantã apresenta-se como uma oportunidade para a Universidade de São Paulo fortalecer os princípios que a definem como universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade.
O Plano Diretor é coordenado por um Comitê Coordenador, indicado pelo Conselho Gestor do Campus e eleito pelas diferentes categorias, integrando docentes, servidores não docentes e estudantes. Sua elaboração está sendo realizada por uma Equipe Técnica de estudantes e pesquisadores supervisionada por docentes especialistas (Comitê Executivo) e congrega voluntários docentes, servidores não docentes e estudantes. Organizados em 8 Grupos de Trabalho Temáticos, as equipes estão estruturadas em torno dos temas da mobilidade, energia, água, resíduos, patrimônio, convivência, áreas verdes e fauna, além de questões transversais.
A Leitura apresentada é resultado da pesquisa dos Grupos de Trabalho Temáticos (GT) em diálogo com o processo participativo presencial e online, que envolveu a comunidade usuária do Campus. Simultaneamente ao trabalho da Equipe Técnica, foram realizadas seis oficinas participativas e uma consulta on-line que receberam mais de 3.000 contribuições sobre o cotidiano do Campus, incluindo demandas, questões, conflitos e também suas principais virtudes e qualidades. A Leitura Crítica Técnica e Participativa sintetiza o conteúdo levantado pela Equipe Técnica e as contribuições da comunidade, consolidando um conjunto representativo de problemáticas, e, sobretudo, de valores que podemos reconhecer coletivamente hoje sobre o Campus para poder repensá-lo.
O levantamento está sendo organizado em banco de dados digital e na construção de uma base cartográfica comum. Os dados estão georreferenciados permitindo que as pesquisas e as contribuições do processo participativo sejam espacializadas no território constituindo um acervo inédito sobre o Campus.
O Campus USP Capital Butantã encontra-se na Várzea do Rio Pinheiros, cuja retificação, realizada entre 1940 e 1960, permitiu o aterramento dos meandros do rio e a consolidação de solo drenado para implantação da Cidade Universitária e dos bairros vizinhos (conforme GT Água).
O relevo do Campus é constituído por duas vertentes, uma para o rio Pinheiros e outra para o córrego San Remo.
Hoje, em virtude das movimentações de terra para implantação do Campus, das reservas florestais e desta geomeorfologia, podemos identificar 4 setores: a área de várzea do rio Pinheiros, da Raia à Av. L. Gualberto, bastante plana, em alguns trechos, com lençol freático a menos de meio metro; a meia-encosta da vertente do rio Pinheiros, com 15 m de desnível para a Várzea, fruto de movimentação de terra que estabeleceu platôs para Unidades; o topo de morro, junto a Reserva do Instituto de Biociências e o Arquivo Central a 45 m da meia-encosta; e a vertente P3 – San Remo, voltada para o Córrego San Remo com 30 m de desnível até a Av. Corifeu de A. Marques.
É importante salientar que os desníveis entre platôs são grandes, resultando em desafios de circulação em todo Campus. Por outro lado, cada um dos setores acaba constituindo uma área potencialmente integrada (ver item isolamento do Campus GT Coordenação). Estes setores foram reforçados no traçado urbano do Campus, construído a partir da revisão de planos anteriores, em 1956, realizada pelo Arquiteto Hélio Duarte e equipe, depois da aquisição de glebas desde 1939 (conforme GT Patrimônio). As obras foram consolidando uma concepção urbanística que previa, aos moldes dos campi universitários americanos do século XIX, um território independente da malha urbana. Atualizado pelo pensamento urbanístico modernista dos anos 1950, o plano realizou a implantação de unidades isoladas no interior de grandes áreas livres vegetadas, conectadas através de um sistema viário que privilegiava a mobilidade motorizada — daí as rotatórias que permitem o fluxo contínuo de automóveis, caminhões e ônibus, evitando cruzamentos e secundarizando os pedestres. A concepção urbanística original, ainda que em grande parte preservada, sofreu inúmeras alterações, algumas pontuais, outras mais significativas, principalmente em relação à praça central (conforme GT Patrimônio), hoje Praça do Relógio, aonde se previa originalmente edifícios de apoio à convivência e serviço. O que permaneceu são os aspectos funcionais, longe das qualidades que os motivaram, e portanto, sem consistência. O traçado que privilegiou os modos motorizados, definiu bolsões de estacionamento, que foram sendo ampliados paulatinamente e hoje estão ociosos (conforme GT Mobilidade). Por outro lado, várias unidades do Campus foram implantando cercamentos nas áreas comuns, fragmentando o espaço, o que requer uma revisão destas intervenções (conforme GT Coordenação).
Embora as áreas entre as unidades e suas edificações não tenham sido qualificadas para o convívio, aos poucos, uma rede mais intuitiva e informal de conexões a pé foi se formando, marcando o território com outras rotas (conforme GT Mobilidade) e definindo também espaços de encontro informais diversos (conforme GT Patrimônio e GT Convivência). Boa parte destas áreas livres podem ter a sua utilização revista, para responder às atuais necessidades socio culturais gerando uma fluidez espacial por caminhos arborizados. Além de constituírem um acervo ambiental de alta qualidade, são potenciais lugares de encontro e refúgio multiespécies com qualidade climática de temperatura e umidade, (conforme GT Áreas Verdes e Fauna).
O Campus já teve 4 Planos Diretores, o último de 2013. Apesar disso, seu território é tratado como uma área a ser explorada sem restrições, segundo as necessidades imediatas ou não de unidades, departamentos e projetos reitorais. Não se trata de questionar o valor e significado, por exemplo, das pesquisas e outras atividades desenvolvidas na USP e suas necessidades, que motivam novos espaços e construções, mas sim de compreender, que, apesar de todas as alterações, o Campus é um Patrimônio Cultural e Ambiental no qual as intervenções precisam ser planejadas.
Passados 70 anos, é urgente instituir uma cultura no Campus, construída coletivamente, que incorpore a noção de que um dos valores da USP é, também, o próprio Campus Butantã, e que as revisões das estruturas acadêmicas devem estar associadas às diretrizes construtivas, arquitetônicas, urbanísticas, ambientais, sobretudo tendo como norte a atualização de seu projeto frente aos desafios do nosso tempo. A valorização dos espaços de convivência, ao ar livre ou construídos, que informam a cultura urbana presente hoje, assim como os desafios quanto à renovação das infraestruturas para atender aos princípios estabelecidos (conforme GT Resíduos, GT Energia e GT Água), são os desafios para repensarmos o Campus no seu centenário.