GT6 - CONVIVÊNCIA
LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA
MAIO/2024
Índice
Convivência, Segurança, Pertencimento e Relação com a Cidade
Índice
Relatório de Leitura Crítica Analítica: Desafios e Potencialidades no Campus
O GT06 – Convivência, Segurança, Pertencimento e Relação com a Cidade, realiza um diagnóstico propositivo que informará intervenções capazes de garantir que a convivência nos espaços do campus e o uso de seus equipamentos sejam social e ambientalmente sustentáveis. Utilizam-se protocolos qualitativos e quantitativos, com coleta de dados secundários (Leitura Técnica) e questionários padronizados (Consulta Pública), entrevistas e grupos focais (Oficinas Participativas). Os dados coligidos conformam um quadro de informações que promove um olhar crítico sobre as ambiguidades, conflitos e potencialidades que caracterizam a vida no campus. Este relatório sintetiza esses dados e destaca os problemas e potencialidades mais significativos, considerando a quantidade total de menções por integrantes da comunidade universitária.
Leitura Histórica
Os dados coletados revelam os problemas mais críticos e as potencialidades mais valorizadas em cada um dos eixos temáticos abordados pelo grupo de trabalho, fornecendo uma base para as intervenções propostas no Plano Diretor. As principais questões relativas ao GT06, levantadas na Consulta Pública com 996 respostas da comunidade universitária, foram sistematizadas e representadas em gráfico, conforme a Figura 1. Já a Figura 2 fornece um panorama das palavras-chaves das principais questões, também relativas ao GT06, levantadas em seis Oficinas Participativas, que contaram com um total de 341 participantes. Os mapas localizam esses problemas e potencialidades.
A seguir, os principais problemas e potencialidades, observados na Figura 3, em cada eixo: 1) Convivência, 2) Segurança, 3) Pertencimento e 4) Relação com a Cidade.
EIXO 1 - CONVIVÊNCIA
No eixo 1, os principais problemas e potencialidades, observados na Figura 4, correspondem às seguintes temáticas: alimentação, moradia e espaços de convivência.
Sobre a Alimentação
A disponibilidade de pontos de alimentação no campus é insuficiente, resultando em uma má distribuição do atendimento dos restaurantes universitários. O Restaurante Central serve uma média de 4 mil refeições diárias, enquanto o Restaurante da Química atende 1,8 mil refeições diariamente, indicando uma significativa disparidade: o Central é o mais usado, porém não é o mais bem localizado. A consulta pública apontou os “bandejões” (n=262) e os “restaurantes terceirizados e food trucks” (n=199) como problemas. Nas oficinas, a qualidade, acesso e conforto nos restaurantes universitários foram destacados (17 participantes) como questões problemáticas. Note-se também a desproporcionalidade territorial de bandejões e serviços de alimentação no campus, conforme mapa apresentado pelo GT Coordenação.
Sobre a Moradia
A moradia estudantil é percebida, ao mesmo tempo, como problema e potencialidade: para a consulta pública, um problema (n=237); para as oficinas, o tema “moradia e políticas de permanência estudantil” surgiu como uma potencialidade (11 participantes). Em 2022, foram ofertadas 1.695 vagas de moradia estudantil no campus São Paulo capital, além da disponibilidade de 7.130 auxílios moradia, integrais e parciais. Desse total de vagas, atualmente, há algumas desativadas, incluindo um bloco inteiro em reforma e outras unidades , resultando em aproximadamente 1.400 vagas disponíveis. Há 158 estudantes na fila de espera da moradia, aguardando com auxílio integral.
Sobre os Espaços de Convivência
As unidades da USP destinam, em média, apenas 7% de sua área construída para convivência e apoio comunitário, conforme Figura 5. A consulta pública destacou a escassez desses espaços como um problema (n=102). Houve também menções conflitantes sobre a Creche Central, vista tanto como uma potencialidade (n=68) quanto como um problema (n=32). Nas oficinas, conflitos entre “espaços de lazer e estudo/trabalho” foram mencionados como um problema (13 participantes). Esse conflito se ressalta na consulta pública, quando “bibliotecas e laboratórios” são assinalados como potencialidades (n=463) enquanto espaços de convivência. Nas oficinas a “falta de espaços, equipamentos ou acessos estudantis” (19 participantes) e a “pouca integração entre as unidades e suas rotinas” (14 participantes) foram tidas como problemáticas. Além do mais, a “baixa disponibilidade de serviços e produtos” foi apontada igualmente como um problema (16 participantes), conforme observado no GT Coordenação. Por outro lado, a “diversidade de manifestações culturais” foi valorizada como uma potencialidade na consulta pública (n=114). As oficinas também ressaltaram a potencialidade da “proliferação e qualificação de espaços para convivência” (60 participantes), bem como de “ampliar e divulgar a programação cultural e festividades no campus” (19 participantes).
EIXO 2 – SEGURANÇA
No eixo 2, dividimos os principais problemas e potencialidades em duas temáticas: roubos e furtos e policiamento no campus.
Sobre Roubos e Furtos
Dados da Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária indicam 163 ocorrências de furtos, roubos e sequestros na Cidade Universitária em 2023, um aumento de 47% em relação ao ano anterior. Esses números revelam que a violência na USP atingiu o maior nível dos últimos cinco anos, ressaltando a necessidade urgente de intervenções. Na consulta pública, a falta de “iluminação pública” foi apontada como um dos principais agravantes da sensação de insegurança (n=218) e “Espaços, locais e vias mal iluminados” foram identificados como inadequações que podem facilitar a ocorrência desses eventos, nas oficinas (44 participantes). Os problemas de segurança, especialmente roubos e furtos, estão territorializados em áreas específicas do campus, sendo muito mais prevalente na região da Raia Olímpica e do CEPEUSP, como observado na Tabela 1. Cabe destacar que o CEPEUSP atrai populações de todo o Campus por ser o segundo destino mais procurado fora das unidades, depois dos bandejões, de acordo com a Pesquisa OD do Campus. É Importante destacar que, embora a população permanente do CEPEUSP seja pequena, é uma área de grande atração, sendo o principal destino da comunidade acadêmica depois dos bandejões. E, como mencionado, esse problema se relaciona com a iluminação pública inadequada, como pode ser observado no mapa de sombras do GT de Energia.
Sobre Policiamento
Além dos problemas relacionados à iluminação, nas oficinas foram apontadas a necessidade de “aprimoramento da segurança” na cidade universitária (26 participantes). A “presença da Polícia Militar” no campus foi também mencionada como problemática (09 participantes), evidenciando um desafio na relação entre a comunidade universitária e as forças de segurança. A Guarda Universitária, no entanto, pode ser um recurso valioso, especialmente com o uso do aplicativo Campus USP, que permite a notificação rápida de roubos, furtos, atividades suspeitas, problemas de iluminação pública, etc., o que pode melhorar sua eficiência na resposta da Guarda Universitária.
EIXO 3 – PERTENCIMENTO
No eixo 3, os principais problemas e potencialidades, observados na Figura 7, foram divididos nas temáticas: assédios e acolhimentos no campus.
Assédio
De acordo com a pesquisa “Questionário PRIP: Inclusão e Pertencimento na USP” de 2023, aproximadamente 40% da população do campus relata já ter experienciado algum tipo de assédio moral, bullying ou comportamento hostil. As principais razões para o assédio são condições socioeconômicas, desempenho acadêmico, gênero e visões políticas. A maior parte dos discentes não consegue reagir quando sofre assédio, enquanto servidores e docentes tendem a enfrentar a pessoa assediadora. Este dado é reforçado pela consulta pública, a qual identifica o “assédio” no campus como um problema significativo (n=117).
Acolhimento
Em contraponto, a USP possui diversas iniciativas de combate ao assédio e violência, com destaque para as ações da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), como o “Protocolo de Atendimento de Violência de Gênero contra Mulheres” e o “USP contra o Assédio”. A consulta pública evidenciou o “Programa PRIP de acolhimento” como uma potencialidade (n=61), assim como o “Programa ECOS” (n= 31). As oficinas ressaltaram a necessidade de “ampliar os acolhimentos e combater os assédios e comportamentos abusivos” (n=32), reforçando a importância de ações contínuas e efetivas nesse âmbito. O Programa ECOS é uma potencialidade que oferece um espaço de escuta, cuidado e orientação em saúde mental na Universidade, contudo precisa ser mais explorada. Na Figura 8, é possível observar a distribuição dos usuários do Programa ECOS no campus.
Relação com o Entorno e Comunidade Externa
A relação entre a USP e os bairros do entorno apresenta diversos desafios. Segundo o Censo Vizinhança USP, 11,7% das famílias domiciliadas na São Remo praticam alguma atividade ou utilizam serviços da USP, o que indica uma integração limitada entre a universidade e a comunidade local. Os moradores da São Remo destacaram problemas no atendimento do Hospital Universitário (HU) e dificuldades de acesso ao campus como os principais incômodos. Além disso, a consulta pública revelou problemas na “relação com os bairros do entorno do campus” (n=90), e o “convívio com usuários externos à USP, como esportistas” (n=82). Nas oficinas, foram mencionados problemas relacionados à “abertura, fruição e uso do campus e sua relação com o entorno” (72 participantes), aos “conflitos com instituições não USP localizadas no campus ou em suas vizinhanças” (11 participantes), e ao “convívio com usuários externos à USP dos equipamentos culturais” (5 participantes). A relação da USP com os bairros do entorno, especialmente São Remo, é observada no Mapa de áreas concessionadas ou ocupadas por terceiros, disponível no GT Coordenação.
Atendimento e Serviços para a Comunidade Externa
Por outro lado, a USP oferece serviços que são muito valorizados pela comunidade externa. Os atendimentos e serviços médicos no HU, odontológicos na Faculdade de Odontologia (FO), veterinários na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) e psicológicos no Instituto de Psicologia (IP) podem ser vistos como potencialidades para a população vizinha da USP. O campus também é considerado um “local de lazer nos fins de semana”, destacando-se como uma potencialidade significativa na consulta pública (n=152). Os espaços museais do campus, como o Museu de Geociências, Museu da Oceanografia, Museu de Anatomia Humana, Museu de Anatomia Veterinária e Museu de Arqueologia e Etnologia, juntamente com o programa Giro Cultural, representam importantes potenciais para a divulgação do conhecimento científico produzido na universidade. Na Figura 10, é possível observar o mapa de espaços museais e culturais no campus.
CONCLUSÕES
Como procuramos demonstrar, os dados coletados nas consultas públicas e oficinas participativas trazem elementos fundamentais para o desenho de um Plano Diretor Participativo. No eixo de Convivência, os principais problemas incluem a distribuição inadequada dos serviços de alimentação e a oferta insuficiente de vagas de moradia. Por outro lado, a diversidade cultural e os programas culturais são pontos fortes que podem ser reforçados. No eixo de Segurança, o aumento nos furtos e a iluminação pública inadequada são preocupações críticas. A promoção do aplicativo Campus USP e a melhoria da iluminação são passos importantes para aumentar a sensação de segurança. No eixo de Pertencimento, a alta incidência de assédio moral e comportamentos hostis são problemas significativos. Iniciativas como o Programa PRIP de acolhimento e o Programa ECOS representam importantes potencialidades que podem ser fortalecidas para promover um ambiente mais acolhedor. No eixo de Relação com a Cidade, a integração limitada com os bairros do entorno é um desafio crítico. Entretanto, os serviços médicos, odontológicos, veterinários e psicológicos, juntamente com os espaços museais e culturais, são pontos fortes a serem utilizados para fortalecer a conexão da USP com a comunidade externa. As intervenções propostas no Plano Diretor devem focar na melhoria dos serviços e infraestrutura do campus, reforçando as potencialidades existentes e abordando os problemas identificados para promover um ambiente mais seguro, inclusivo e integrado com a cidade.