GT1 - MOBILIDADE
LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA
JULHO/2024
Índice
A MOBILIDADE NO CAMPUS USP BUTANTÃ
Índice
Índice
Este documento sintetiza a leitura do Eixo Temático “Mobilidade” para fins de elaboração do Plano Diretor do Campus USP Capital Butantã. As condições da mobilidade no Campus foram investigadas a partir de levantamentos técnico e participativo, e sistematizadas por modos de transporte: ativos (pedestres e ciclistas), coletivos e motorizado individual.
Construído segundo uma concepção de urbanismo modernista, que inclui o modelo rodoviarista e a ampla presença de espaços verdes, o Campus possui as seguintes características físicas que influenciam como as pessoas se deslocam:
- Baixa densidade construtiva, que gera sensação de insegurança e de monotonia ao caminhar ou pedalar, com distâncias longas entre os pontos de interesse;
- Edifícios com ausência de fachadas ativas ao longo das calçadas, gerando desarmonia com os espaços de caminhada do entorno;
- Escassez de conexão entre as edificações;
- Vias largas com múltiplas faixas de rolamento;
- Infraestrutura viária centrada na circulação de carros, com presença marcante de rotatórias na malha viária;
- Bolsões de estacionamento com dimensões expressivas.
A malha viária da Cidade Universitária tem uma extensão aproximada de 60 km, incluindo vias arteriais, coletoras e locais (Figura 3). As principais portarias e ciclofaixas se localizam nas vias arteriais, com continuidade dos passeios e pavimentação em boas condições.
A presença de estacionamentos é predominante ao longo de todas as vias do Campus, totalizando uma área de aproximadamente 250.000m². Geralmente localizados nas entradas dos edifícios, eles interferem na continuidade dos caminhos de pedestres. Os estacionamentos nos bolsões e ao longo das vias somam cerca de 13.000 vagas.
Ao longo dos 10.143m de perímetro do Campus, existem 11 portarias, todas acessíveis por pedestres e bicicletas, enquanto 4 incluem veículos motorizados. Considerando-se uma distribuição média das distâncias entre as portarias, o Campus apresenta uma portaria de pedestres a cada 922m. Este resultado também se deve à presença de algumas barreiras em seu entorno, as quais inviabilizam o acesso em certos pontos, tais como o Instituto Butantã, o IPT e a Marginal do Rio Pinheiros.
Segundo dados da Pesquisa Origem-Destino do Campus USP Butantã de 2023, 58% das pessoas utilizam a portaria principal, chamada P1, para acessar o Campus; na sequência, vêm o P3 (14%) e o P2 (13%). A Tabela 1 apresenta a relação entre acessos e os modos de transporte.
Ao olhar os dados da pesquisa Origem-Destino de 2023, percebe-se que o deslocamento da população para o Campus tem como origem diversos distritos do município de São Paulo, assim como outros municípios, conforme apresentado na Figura 5. Para além do Butantã, distrito no qual localiza-se o Campus, destaca-se a concentração de moradores em bairros próximos, como Jaguaré, Pinheiros e Rio Pequeno.
De acordo com a Pesquisa Origem-Destino de 2023, 62% das pessoas utilizam o transporte coletivo para acessar o Campus, 24% utilizam o transporte motorizado individual e 14% optam por modos de transporte ativos. Essa divisão modal também é influenciada pelo vínculo institucional e gênero das(os) respondentes, como pode ser observado nas Figuras 6 e 7.
Analisando a distribuição da divisão modal por unidades do Campus (Figura 8), nota-se em algumas um maior uso do transporte motorizado individual, enquanto em outras prevalecem transportes coletivos. É notável que unidades como o IRI, a FFLCH e a FAU utilizam amplamente o transporte público, enquanto a Reitoria, a Administração e o HU contam com maior utilização de transportes motorizados individuais.
TRANSPORTES ATIVOS
Outras barreiras à livre circulação entre as áreas internas são as cinco Reservas Ecológicas e as barreiras físicas que delimitam algumas unidades, a exemplo das instalações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN):
A relação entre a geomorfologia e a infraestrutura do Campus afeta diretamente a experiência de caminhar e pedalar. Outros pontos destacados nas oficinas participativas de abril de 2024 foram: drenagem, arborização, iluminação, extensão do Campus, barreiras físicas, topografia, presença ou ausência de locais de apoio e convivência, falta de clareza nos caminhos entre as unidades e a manutenção de calçadas e ciclofaixas.
Outro ponto observado é a dificuldade de localização dos pedestres no Campus. As razões são a falta de legibilidade dos espaços e a sinalização precária. De fato, a falta de um plano integrado de placas indicativas e direcionais resulta em uma comunicação visual deficiente (Figura 12).
Figura 12 — Placas de sinalização permanente (na frente do Restaurante Central e do restaurante do Conjunto das Químicas) e temporária na Av. Luciano Gualberto, 2024.
Pedestres
A pesquisa online identificou os restaurantes universitários como destinos principais da circulação interna no Campus, seguidos do CEPE e do HU. Esse dado foi corroborado também pelos mapas colaborativos de caminhos de pedestres elaborados nas oficinas participativas (Figura 13).
Considerando que os caminhos entre as unidades e os restaurantes universitários estão entre os deslocamentos de pedestres mais frequentes no Campus, a infraestrutura existente dificulta esse fluxo, sobretudo a descontinuidade dos caminhos de pedestres (Figura 15). Outros desafios identificados pela equipe técnica e pelas oficinas participativas incluem:
- Presença de catracas limitadoras de passagem, em alguns edifícios;
- Dificuldades de travessia, especialmente nas rotatórias;
- Acessibilidade limitada;
- Obstáculos físicos e falta de manutenção, nas calçadas;
- Ausência de pontos de apoio e áreas de convívio, nos caminhos.
Para analisar as distâncias que podem ser percorridas dentro do Campus, considerou-se percursos de até 1 quilômetro a partir dos acessos, assumindo tal distância como limite máximo adequado para um deslocamento a pé (Figura 16). Nota-se, assim, que as distâncias internas apresentam um desafio, para os percursos a pé.
Figura 17 — Barreiras arquitetônicas nos passeios do Campus e iluminação ineficiente, 2024.
Bicicletas
A infraestrutura cicloviária do Campus, implementada durante a pandemia, se concentra principalmente nas vias arteriais e em algumas vias coletoras, consistindo principalmente de ciclofaixas, algumas protegidas por estacionamentos, em trechos específicos.
Apesar da extensão do Campus, as distâncias internas são adequadas para o uso da bicicleta. A Figura 19 mostra uma área de abrangência de até 3 quilômetros a partir das portarias ao longo da rede cicloviária. Vale ressaltar, no entanto, que a topografia acidentada em parte do Campus representa uma dificuldade para os ciclistas.
Não há um levantamento oficial da quantidade e localização de paraciclos no Campus, tampouco uma padronização na forma de estacionar bicicletas. A diversidade nesse sentido é evidente: variam a cobertura física, a localização, a quantidade e o método de fixação dos veículos.
Figura 20 — Diferentes paraciclos em diversas unidades (Engenharia Mecânica, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Instituto de Energia e Ambiente), 2024.
A pesquisa Origem-Destino de 2023 investigou os motivos de não uso da bicicleta, bem como os aspectos menos adequados do Campus a tal uso, como pode ser observado nas Figuras 22 e 23. Esses aspectos também foram destacados nas oficinas participativas.
Figura 24 — Diferentes categorias e condições de ciclofaixas (com estacionamento na Av. Prof. Luciano Gualberto, sem estacionamento na Av. Prof. Melo Moraes e na Av. Prof. Lúcio Martins), 2024.
TRANSPORTE COLETIVO
A maioria da população do Campus utiliza os transportes coletivos para acessar a Cidade Universitária, representando aproximadamente 60% das pessoas, dentre estes usuários, 45% utilizam os ônibus circulares e 33% os ônibus municipais. O Campus é servido por estações metroferroviárias próximas, além de contar com linhas de ônibus municipais e intermunicipais que adentram suas dependências.
A estação de trem mais próxima é a Cidade Universitária, da linha 9 – Esmeralda, localizada a cerca de 350 m de distância da portaria CPTM. Já a estação do Metrô mais próxima, a Butantã, da linha 4 – Amarela, encontra-se a aproximadamente 1 km do P1 e está conectada ao Campus por meio de três linhas de ônibus municipais: 8012-10, 8022-10 e 8032-10. Os discentes, docentes e servidores técnicos e administrativos da USP têm acesso livre a esses ônibus através do uso do cartão BUSP.
Atualmente, a maior dificuldade de acesso ao Campus diz respeito ao uso das linhas circulares, tema mais citado nas oficinas participativas. Aspectos como lotação, tempo de espera, qualidade do serviço e desenho das linhas foram apontados como os principais problemas.
Além dos ônibus BUSP, sete linhas de ônibus municipais e uma linha intermunicipal circulam dentro do Campus. Todas as oito linhas entram pela P1 e sete delas têm como ponto final o terminal de ônibus localizado na Av. Prof. Almeida Prado, próximo ao P2. A exceção é o 7725-10 (Rio Pequeno – Term. Lapa), único que utiliza a Portaria 2 como acesso.
Os aspectos considerados satisfatórios ou não pelos respondentes da pesquisa origem-destino de 2023 em relação aos ônibus municipais se assemelham com o dos ônibus circulares, diferenciando apenas a “regularidade dos horários de viagem” que tem uma importância maior do que “fila no terminal” (Figura 30). Além desses aspectos, as oficinas participativas apontaram o transporte público na vizinhança do Campus como deficitário.
Há uma distribuição adequada de paradas de ônibus ao longo de todo o Campus, como pode ser observado na Figura 31, que apresenta um buffer euclidiano de 250m a partir das paradas de ônibus.
Figura 32 — Ônibus Circulares na estação de metrô Butantã e na Av. Prof. Luciano Gualberto, e lotação na parada de ônibus na Av. Prof. Lineu Prestes, 2024.
A conexão do Campus com as estações de trem e metrô apareceu como um problema nas oficinas participativas; também houve pedidos por uma estação dentro do Campus. Em maio de 2023, o Metrô de São Paulo anunciou o projeto da linha 22-Marrom, que liga Cotia à estação Sumaré da linha 2-Verde na zona oeste da cidade de São Paulo. No traçado, é prevista a estação Universidade de São Paulo, cuja localização dentro do Campus está sendo decidida (Figura 33).
TRANSPORTE MOTORIZADO INDIVIDUAL
O uso do transporte motorizado individual para acessar o Campus diminuiu ao longo do tempo, representando hoje menos de um quarto dos usuários, compostos principalmente por docentes e funcionárias(os). Uma consequência é a redução significativa da ocupação dos diversos bolsões de estacionamento ao longo do Campus. Três áreas ainda apresentam uma ocupação relevante de carros estacionados: Reitoria, CEPE e HU. Nas oficinas participativas, o estacionamento de veículos foi considerado uma potencialidade, dado que foi mencionada a ociosidade dos bolsões de estacionamento.
Apesar de não existirem dados oficiais, um volume importante de veículos externos à USP utiliza o Campus como passagem para evitar o trânsito da cidade e há uma concentração de veículos estacionados próximos à entrada da CPTM, indicando o uso de estacionamentos do Campus para acesso à estação Cidade Universitária.
A Figura 35 apresenta a relação entre o número de vagas de estacionamento e a população da unidade. Verifica-se que ICB, FO e IEE são os que apresentam uma maior proporção de vagas de acordo com a população, enquanto IME, FFLCH e ECA são as unidades que apresentam a menor proporção.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A leitura técnica e participativa aqui apresentada evidenciou aspectos da mobilidade no Campus, sistematizada por modos de transporte. Destaca-se como a maior dificuldade o deslocamento entre a estação de metrô Butantã e a USP. Uma vez que a estação de metrô for instalada na USP, supõe-se uma mudança na necessidade de transporte coletivo para o deslocamento interno.
A mobilidade no Campus apresenta também o desafio de atender as necessidades dos modos de transportes ativos, considerando o ambiente de um Campus que apresenta desconexão entre as unidades, distâncias longas e desconfortáveis para serem realizadas a pé. A valorização dos transportes ativos dentro do Campus favorece uma integração mais equilibrada entres as unidades, ao mesmo tempo que preserva e valoriza o ambiente agradável e arborizado da Cidade Universitária.