GT1 - MOBILIDADE
LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA
MAIO/2024
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A MOBILIDADE NO CAMPUS USP BUTANTÃ
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Este documento sintetiza a leitura do Eixo Temático “Mobilidade” para fins de elaboração do Plano Diretor do Campus USP Capital Butantã. As condições da mobilidade no Campus foram investigadas entre outubro de 2023 e maio de 2024, a partir de levantamentos técnico e participativo, e sistematizadas por modos de transporte: ativos (pedestres e ciclistas), coletivos e motorizado individual.
Construído segundo uma concepção de urbanismo modernista, que inclui o modelo rodoviarista e a ampla presença de espaços verdes. As seguintes características físicas influenciam como as pessoas se deslocam:
- Baixa densidade construtiva, que gera sensação de insegurança e de monotonia ao caminhar ou pedalar;
- Edifícios separados por amplos espaços livres acarretando em distâncias longas entre os pontos de interesse;
- Edifícios com ausência de fachadas ativas ao longo das calçadas, gerando desarmonia com os espaços de caminhada do entorno;
- Escassez de conexão entre as edificações;
- Vias largas com múltiplas faixas de rolamento;
- Infraestrutura viária centrada na circulação de carros, com presença marcante de rotatórias na malha viária;
- Bolsões de estacionamento com dimensões expressivas.
A malha viária da Cidade Universitária tem uma extensão aproximada de 60 km, incluindo vias arteriais, coletoras e locais (Figura 4). As principais portarias e ciclofaixas se localizam nas vias arteriais, com continuidade dos passeios e pavimentação em boas condições. No entanto, as rotatórias, elemento marcante nas vias do Campus, interferem na circulação de pedestres e ciclistas, ponto citado como problemático nas oficinas participativas.
A presença de estacionamentos é predominante ao longo de todas as vias do Campus, totalizando uma área de aproximadamente 250.000 m² de bolsões de estacionamento.
Geralmente localizados nas entradas dos edifícios, eles interferem na continuidade dos caminhos de pedestres. Os estacionamentos nos bolsões e ao longo das vias somam cerca de 13.000 vagas.
Ao longo dos 10.143 m de perímetro do Campus, existem 11 portarias, todas acessíveis por pedestres e bicicletas, enquanto 4 incluem veículos motorizados. Considerando-se uma distribuição média das distâncias entre as portarias, o Campus apresenta uma portaria de pedestres a cada 922 m. Este resultado também se deve à presença de algumas barreiras em seu entorno, as quais inviabilizam o acesso em certos pontos, tais como o Instituto Butantã, o IPT e a Marginal do Rio Pinheiros.
Segundo dados da Pesquisa Origem-Destino do Campus USP Butantã de 2023, 58% das pessoas utilizam a portaria principal, chamado P1, para acessar o Campus; a segunda e a terceira portarias mais utilizados são o P3 (14%) e o P2 (13%).
Como se vê na Tabela 1, quando o assunto é a relação entre uso das portarias e o modo de transporte, há um maior uso da entrada pelo bairro Vila Indiana por transportes ativos, enquanto o P1 recebe a totalidade dos transportes coletivos e o acesso por veículos motorizados se distribui entre o P1, P2 e P3.
Ao olhar os dados da pesquisa Origem-Destino de 2023, percebe-se que o deslocamento da população para o Campus tem como origem diversos distritos do município de São Paulo, assim como outros municípios, conforme apresentado na Figura 6. Para além do Butantã, distrito no qual localiza-se o Campus, destaca-se a concentração de moradores em bairros próximos, como Jaguaré, Pinheiros e Rio Pequeno.
De acordo com a Pesquisa Origem-Destino de 2023, 62% das pessoas utilizam o transporte coletivo para acessar o Campus, 24% utilizam o transporte motorizado individual e 14% optam por modos de transporte ativos. Essa divisão modal também é influenciada pelo vínculo institucional e gênero das(os) respondentes. Como pode ser observado nas Figuras 7 e 8, há uma predominância do uso de transporte público por discentes, enquanto o transporte motorizado individual é majoritariamente utilizado por professoras(es) e funcionárias(os).
Por sua vez, a utilização dos transportes ativos é equivalente para todos os tipos de vínculo institucional. Porém, ao considerar a distribuição de gênero, observa-se que os transportes ativos são mais utilizados pelo gênero masculino do que pelo feminino.
Analisando a distribuição da divisão modal por unidades do Campus (Figura 9), nota-se em algumas maior o uso do transporte motorizado individual, enquanto em outras prevalecem transportes coletivos. É notável que unidades como o IRI, a FFLCH e a FAU utilizam amplamente o transporte público, enquanto a Reitoria, a Administração e o HU contam com maior utilização de transportes motorizados individuais.
TRANSPORTES ATIVOS
Outras barreiras à livre circulação entre as áreas internas são as cinco Reservas Ecológicas e as barreiras físicas que delimitam algumas unidades, a exemplo das instalações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN):
A relação entre a geomorfologia e a infraestrutura do Campus afeta diretamente a experiência de caminhar e pedalar. Outros pontos destacados nas oficinas participativas de abril de 2024 foram: drenagem, arborização, iluminação, extensão do Campus, barreiras físicas, topografia, presença ou ausência de locais de apoio e convivência, falta de clareza nos caminhos entre as unidades e a manutenção de calçadas e ciclofaixas.
Outro ponto observado é a dificuldade de localização dos pedestres no Campus. As razões são a falta de legibilidade dos espaços e a sinalização precária. De fato, a falta de um plano integrado de placas indicativas e direcionais resulta em uma comunicação visual deficiente (Figura 13).
Pedestres
A pesquisa participativa online identificou os restaurantes universitários como destinos principais da circulação interna no Campus, seguidos do CEPE e do HU. Esse dado foi corroborado também pelos mapas colaborativos de caminhos de pedestres elaborados nas oficinas participativas (Figura 14).
Considerando que os caminhos entre as unidades e os restaurantes universitários estão entre os deslocamentos de pedestres mais frequentes no Campus, a infraestrutura existente dificulta esse fluxo, sobretudo a descontinuidade dos caminhos de pedestres (Figura 17). Outros desafios identificados pela equipe técnica e pelas oficinas participativas incluem:
- Presença de catracas limitadoras de passagem, em alguns edifícios;
- Dificuldades de travessia, especialmente nas rotatórias;
- Acessibilidade limitada;
- Obstáculos físicos e falta de manutenção, nas calçadas;
- Ausência de pontos de apoio e áreas de convívio, nos caminhos.
Para analisar as distâncias que podem ser percorridas dentro do Campus, o Eixo Temático “Mobilidade” considerou percursos de até 1 quilômetro a partir das portarias, assumindo tal distância como limite máximo adequado para um deslocamento a pé (Figura 18). Nota-se, assim, que as distâncias internas apresentam um desafio, caso o percurso seja feito inteiramente a pé. Já, ao se analisar as distâncias a partir das paradas de ônibus (Figura 33), verifica-se que o acesso a todas as unidades está em uma distância adequada para este modo de transporte.
Bicicletas
A infraestrutura cicloviária do Campus, implementada durante a pandemia, se concentra principalmente nas vias arteriais e em algumas vias coletoras. Essa infraestrutura consiste principalmente em ciclofaixas, algumas protegidas por estacionamentos, em trechos específicos. Porém, fora das vias principais, falta estrutura adequada.
Apesar da extensão do Campus, as distâncias internas são adequadas para o uso da bicicleta. A Figura 21 mostra uma área de abrangência de até 3 quilômetros a partir das portarias ao longo da rede cicloviária:
Vale ressaltar, no entanto, que a topografia acidentada em parte do Campus representa uma dificuldade para os ciclistas.
Não há um levantamento oficial da quantidade e localização de paraciclos no Campus, tampouco uma padronização na forma de estacionar bicicletas. A diversidade nesse sentido é evidente: variam a cobertura física, a localização, a quantidade e o método de fixação dos veículos. Com frequência, observam-se bicicletas estacionadas em locais não designados para esse fim. A quantidade de estacionamentos para bicicletas foi citada como inadequada tanto nas oficinas quanto na pesquisa Origem-Destino.
A pesquisa Origem-Destino de 2023 investigou os motivos de não uso da bicicleta, bem como os aspectos menos adequados do Campus a tal uso. Em relação aos motivos, 23% das pessoas responderam não possuir bicicleta. A relação da pessoa com a bicicleta e características da cidade, tais como distância e medo de pedalar, totalizaram 37% das respostas. 20% das(os) respondentes mencionaram a infraestrutura, tal como vias cicláveis e topografia, enquanto 13% citaram o sistema de bicicletas compartilhadas da Tembici (Figura 24).
Quanto aos aspectos inadequados ao uso da bicicleta na USP, 49% mencionaram a infraestrutura e/ou sua manutenção. A Tembici e motivos econômicos foram apontados, respectivamente, por 31% e 15% das(os) respondentes (Figura 25). Esses aspectos também foram destacados nas oficinas participativas.
TRANSPORTE COLETIVO
A maioria da população do Campus utiliza os transportes coletivos para acessar a Cidade Universitária, representando aproximadamente 60% das pessoas, conforme apontado pela pesquisa Origem-Destino de 2023, dentre estes usuários, 45% utilizam os ônibus circulares e 33% os ônibus municipais. O Campus é servido por estações metroferroviárias próximas, além de contar com linhas de ônibus municipais e intermunicipais que adentram suas dependências.
A estação de trem mais próxima é a Cidade Universitária, da linha 9 – Esmeralda, localizada a cerca de 350 m de distância da portaria CPTM. Já a estação do Metrô mais próxima, a Butantã, da linha 4 – Amarela, encontra-se a aproximadamente 1 km do P1 e está conectada ao Campus por meio de três linhas de ônibus municipais: 8012-10, 8022-10 e 8032-10, também chamadas de “linhas circulares” ou “ônibus BUSP”. Os discentes, docentes e servidores técnicos e administrativos da USP têm acesso livre a esses ônibus através do uso do cartão BUSP.
Atualmente, o acesso ao Campus apresenta enormes dificuldades, especialmente no que diz respeito ao uso das linhas circulares, tema mais citado nas oficinas participativas. Aspectos como lotação, tempo de espera, qualidade do serviço e desenho das linhas foram apontados como os principais problemas enfrentados pela comunidade USP. Esses aspectos estão em concordância com as respostas dadas na pesquisa origem-destino de 2023 em relação à satisfação dos ônibus circulares. Os três piores aspectos considerados foram “fila no terminal”, “tempo de espera nos pontos” e “frequência dos ônibus”; enquanto que os três melhores avaliados foram “qualidade da condução do(a) motorista”, “qualidade do ônibus” e “tempos de viagem” (Figura 29).
Além dos ônibus BUSP, sete linhas de ônibus municipais e uma linha intermunicipal circulam dentro do Campus. Todas as oito linhas entram pela P1 e sete delas têm como ponto final o terminal de ônibus localizado na Av. Prof. Almeida Prado, próximo ao P2. A exceção é o 7725-10 (Rio Pequeno – Term. Lapa), único que utiliza a Portaria 2 como acesso. Nenhuma dessas rotas utiliza o P3 como acesso.
As vias Av. Corifeu de Azevedo Marques, Av. Prof. Afrânio Peixoto e Rua Alvarenga, contém pontos de ônibus próximos do P3 (8 linhas municipais e 3 intermunicipais), P1 (1 linha municipal) e Portão Teixeira Soares (1 linha municipal), respectivamente.
Os aspectos considerados satisfatórios ou não pelos respondentes da pesquisa origem-destino de 2023 em relação aos ônibus municipais se assemelham com o dos ônibus circulares, diferenciando apenas a “regularidade dos horários de viagem” que tem uma importância maior do que “fila no terminal” (Figura 32). Além desses aspectos, as oficinas participativas apontaram o transporte público na vizinhança do Campus como deficitário.
Há uma distribuição adequada de paradas de ônibus ao longo de todo o Campus, como pode ser observado na Figura 33, que apresenta um buffer euclidiano de 250m a partir das paradas de ônibus.
A conexão do Campus com as estações de trem e metrô apareceu como um problema nas oficinas participativas; também houve pedidos por uma estação dentro do Campus. Em maio de 2023, o Metrô de São Paulo anunciou o projeto da linha 22-Marrom, que liga Cotia à estação Sumaré da linha 2-Verde na zona oeste da cidade de São Paulo. No traçado, é prevista a estação Universidade de São Paulo, cuja localização dentro do Campus está sendo decidida. Além dessa, outras duas estações da linha 22-Marrom (Rio Pequeno e Vital Brasil), localizadas nos arredores, atenderão parte da população da Cidade Universitária (Figura 35).
TRANSPORTE MOTORIZADO INDIVIDUAL
O uso do transporte motorizado individual para acessar o Campus diminuiu ao longo do tempo, representando hoje menos de um quarto dos usuários, compostos principalmente por docentes e funcionárias(os). Uma consequência é a redução significativa da ocupação dos diversos bolsões de estacionamento ao longo do Campus. Três áreas ainda apresentam uma ocupação relevante de carros estacionados: reitoria, CEPE e HU. Nas oficinas participativas, o estacionamento de veículos não foi considerado um problema, mas sim uma potencialidade, dado que foi mencionada a ociosidade dos bolsões de estacionamento. Nas oficinas, também foram reivindicadas vagas para motocicletas.
Apesar de não existirem dados oficiais, há um uso do espaço viário do Campus por pessoas externas à comunidade USP. Um volume importante de veículos utiliza o Campus como passagem para evitar o trânsito da cidade e há uma concentração de veículos estacionados próximos à entrada da CPTM, indicando o uso de estacionamentos do Campus para acesso à estação Cidade Universitária. Vale ressaltar que não há cobrança de estacionamento em toda a área do Campus.
Foi levantado o número de vagas de estacionamento por unidade. A Figura 37 apresenta a relação entre o número de vagas de estacionamento e a população da unidade. Verifica-se que ICB, FO e IEE são os que apresentam uma maior proporção de vagas de acordo com a população, enquanto IME, FFLCH e ECA são as unidades que apresentam a menor proporção. Vale ressaltar que nesse cálculo não foram consideradas as vagas que se localizam ao longo das vias.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A leitura técnica e participativa aqui apresentada evidenciou aspectos da mobilidade no Campus USP Capital Butantã sistematizada por modos de transporte. Destaca-se como a maior dificuldade o deslocamento entre a estação de metrô Butantã e a USP, com reclamações sobre as filas, tempo de espera e lotação dos ônibus chamados de circulares. Uma vez que a estação de metrô for instalada na USP, supõem-se uma mudança na necessidade de transporte coletivo para se deslocar dentro do Campus.
Em ambos os cenários, atual e futuro com a implantação da estação de metrô, a mobilidade no Campus apresenta o desafio central de atender às necessidades dos modos de transportes ativos, considerando o ambiente de um Campus historicamente projetado em torno do automóvel, ou seja, apresentando desconexão entre as unidades, distâncias longas e desconfortáveis para serem realizadas a pé.
A valorização dos transportes ativos dentro do Campus favorece uma integração mais equilibrada entres as unidades, ao mesmo tempo que preserva e valoriza o ambiente agradável e arborizado da Cidade Universitária. Questões envolvendo a adequação dos pedestres e ciclistas e a integração deles com modos de transporte coletivo orientarão as próximas etapas da elaboração do Plano Diretor.