GT3 - ÁGUA

LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA

JUNHO/2024

Índice

SÍNTESE DA LEITURA CRÍTICA ANALÍTICA - GT ÁGUA

Índice

A partir dos princípios que orientam os trabalhos do Plano Diretor, o trabalho do GT tem como foco as premissas sobre água da Agenda 2030 (ODS 6), das soluções baseadas na natureza (SbNs) e a questão da emergência climática.

Frente à etapa de leitura crítica da situação, têm-se duas perguntas orientadoras: como otimizar o uso e a convivência com a água no Campus? Como contribuir para o tratamento do esgoto e o reúso da água?

O levantamento que gerou a Leitura Crítica Analítica sobre a temática da água no Campus foi dividido em cinco grandes eixos (Figura 1).

Figura 1 — Organograma ilustrativo dos eixos de organização do trabalho do GT Água. Elaboração: Equipe técnica GT Água.

Inseridas nesses eixos, a comunidade apresentou diversas questões relacionadas à temática água nas oficinas participativas, como mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1— Resultados das oficinas participativas: GT Água. Elaboração: Equipe técnica GT Água.

A identificação dos problemas, das demandas, das potencialidades, a priorização, as expectativas da comunidade e as análises referentes a cada um desses eixos são apresentadas a seguir.

CONSUMO

Água potável

Problemas ou desafios identificados na leitura e nas oficinas:

a) atualmente apenas um funcionário atende as questões sobre água no Programa Permanente para o Uso Eficiente dos Recursos Hídricos e Energéticos (PUERHE);

b) a substituição de equipamentos ultrapassados ou em mau funcionamento é de responsabilidade das Unidades. Seu número ou localização são desconhecidos;

c) a última campanha de conscientização para a redução do consumo de água promovida pelo campus foi em 2015;

d) problemas nas instalações hidráulicas;

e) falta de bebedouros e banheiros em áreas comuns.

Qualidades e potencialidades:

A substituição dos equipamentos sanitários (torneiras, bacias, arejadores e restritores de vazão, misturadores e válvulas) da USP Campus Capital Butantã (CUSP-CB) por equipamentos economizadores no final da década de 1990 e as campanhas de conscientização para a redução do consumo e perdas geraram uma redução de 56% no consumo de água em 24 anos (Quadro 1).

Apesar do avanço, a comunidade manifestou preocupação com o desperdício e a racionalização do uso da água no campus. Dessa maneira, aponta-se como potencialidade o investimento em novas campanhas de conscientização e redução do consumo de água.

Quadro 1 — Situação do consumo de água potável no CUSP-CB (dados do PUERHE referentes ao mês de novembro de 2023). Fonte: PUERHE, 2024.

Água não potável - fontes alternativas de abastecimento para fins não potáveis

Reúso

Considera-se aqui a definição de reúso de água da ABNT NBR 16783:2019: “reutilização, mediante tratamento adequado, de água previamente utilizada”. A água da chuva não se encaixa no conceito de reúso, por não ter sido previamente utilizada.

Problemas e desafios

Um dos fatores que dificulta a aplicação de projetos para o reúso da água é o fato do Campus não possuir uma estação de tratamento de água ou de esgoto.

O reúso da água exige investimento, pois envolve tratamento, bombeamento, sistema adicional de distribuição e armazenagem independentes da companhia de abastecimento, além de manutenção.

Qualidades e potencialidades

O reúso contribuiria para o abastecimento ao longo do ano, havendo a possibilidade de interceptação na rede de coleta de esgoto, mas há a necessidade de tratamento, armazenagem e distribuição. Há potencial para reúso da água, sobretudo no setor da saúde (FMVZ), no CEPEUSP e em outras Unidades. Projetos de docentes foram encaminhados à SGA, mas dependem de investimento.

Aproveitamento da água de chuva

Problemas e desafios

Há projetos que preveem o aproveitamento de água de chuva para uso não potável, tais como dois projetos-piloto no CTH da Escola Politécnica (Imagem 1), que foram desativados após problemas na bomba; e o sistema de coleta do prédio da História e Geografia, que tem um tanque de armazenamento de água da chuva, mas que atualmente é utilizado apenas com a finalidade de reduzir o escoamento e prevenir enchentes.

Outros projetos elaborados por docentes para a implantação de um sistema de captação e aproveitamento de água de chuva em algumas Unidades, tais como a FMVZ e o CEPEUSP, enfrentaram problemas de implantação.

Assim como no caso do reúso, para um aproveitamento eficiente e seguro de água da chuva, há a necessidade de instalação de bombas e construção de reservatórios para o armazenamento e distribuição da água coletada, além da necessidade de um programa de manutenção adequado.

Qualidades e potencialidades

Há potencial para aproveitamento de água da chuva para uso não potável sobretudo nos prédios em que já há uma estrutura pronta para isso.

Outras questões a serem consideradas seriam:

a) a sazonalidade dos períodos de chuva no município de São Paulo, que vêm apresentando eventos intensos e concentrados, agravados pelas mudanças climáticas;

b) a variação dos períodos de demanda pelo uso da água, que normalmente é maior nos períodos de aula (março a junho e agosto a novembro) e menor nos meses de verão que são os mais chuvosos, mas coincidem com o período de férias.

Imagem 1 — Sistema de captação de água de chuva no CTH/Poli. A água de chuva captada era utilizada nos banheiros porém, o sistema está inoperante devido a um problema na bomba. Fotos: Fabiana Pegoraro Soares, 2024.

Convivência

Problemas ou desafios

As oficinas demandaram a melhoria da convivência entre os atores do Campus e os corpos d’água, incluindo a abertura da raia olímpica para contemplação e lazer (ainda que a área da raia seja aberta à comunidade USP, com acesso restrito ao corpo d’água).

Em relação aos riachos presentes no Campus, surgiram diversas descrições como mal-cheirosos, cheios de lixo e mosquitos.

O canal do Tejo (Imagem 2) é associado a possível presença de esgoto.
Além disso, os dados levantados mostraram riachos escondidos, poluídos, canalizados e tamponados, além de nascentes cercadas, fatores que afastam as pessoas da convivência com os corpos d’água.

Imagem 2 — Canal do Tejo, nas imediações da Escola Politécnica. Foto: Fabiana Pegoraro Soares, 2024.

Qualidades e potencialidades

Apontam-se como potencialidades para a melhoria da convivência entre os atores do Campus e os corpos d’água:

a) programas educativos para valorização das águas do Campus;

b) reabilitação de corpos d’água;

c) possíveis destamponamentos de corpos  d’água;

d) valorização e recuperação das áreas de nascentes;

e) promoção da contemplação e do lazer vinculados aos corpos d ‘água.

Há potencialidade de uso da raia para contemplação ao longo da avenida Prof. Mello Moraes (Imagem 3). Para abertura ao público em geral, são necessários estudos sobre a possibilidade de integração entre acesso e segurança.

Imagem 3 — Raia olímpica do CEPEUSP. Foto: Fabiana Pegoraro Soares, 2024.

FONTES DE CAPTAÇÃO E ABSATECIMENTO

Companhia de abastecimento

Atualmente, toda a água potável consumida no Campus é fornecida por meio da rede pública de distribuição de água.

Poços

Problemas ou desafios

O Campus possui oito poços, sendo sete artesianos (Mapa 1). É importante acompanhar rigorosamente a qualidade da água e manutenção dos poços, levando em conta as restrições legais, a estrutura geológica e do solo, que deve comportar a retirada de água.

Qualidades e potencialidades

A PUSP-CB realiza coleta de água no poço do IEE para uso em lavagem de vias e paradas de ônibus do Campus e rega de replantio. Os poços do IGc são de responsabilidade da Unidade e utilizados para fins de pesquisa. Os poços da raia olímpica estão desativados.

Mapa 1 — Localização dos poços, 2024.

REDES DE DRENAGEM

Nascentes

Foram identificadas sete áreas de nascentes no território do Campus (Mapa 2), em diferentes estados.

Problemas ou desafios

A comunidade apontou o desconhecimento da localização das nascentes, porém, houve manifestações apontando a necessidade de revitalizar suas áreas de ocorrência.

Qualidades e potencialidades

A presença de nascentes no Campus traz potencialidades para trabalhos de ensino e pesquisa, de experiências de recuperação e de convívio da comunidade com a água.

Corpos d'água e canais fluviais naturais e antropogênicos

O território do Campus situa-se em uma área que abrange duas bacias hidrográficas, a do Pirajussara e a do Jaguaré, que integram a bacia do rio Pinheiros. Porém, as movimentações de origem antrópica no terreno, como cortes, aterramentos, canalizações e tamponamentos, dificultam observar ou mapear com precisão os cursos d’água presentes no Campus.

Na área da bacia do Jaguaré, há seis canais fluviais no território do Campus que deságuam diretamente no ribeirão Jaguaré. Na área da bacia do Pirajussara, são encontrados três canais fluviais no território do Campus (Mapa 2).

Mapa 2 — Redes de drenagem, 2024.

Problemas ou desafios

a) Bacias hidrográficas em terrenos com alta intervenção antrópica;

b) A maior parte dos cursos d’água são transfronteiriços, envolvendo o IPEN, o Instituto Butantan e a comunidade São Remo;

Qualidades e potencialidades

Desenvolvimento de projetos de ensino e pesquisa e de tratamento das águas, recuperação de canais e destamponamento.

Inundações e alagamentos

Problemas ou desafios

Grande parte do território do Campus é composta pelas planícies de inundação dos ribeirões Pirajussara e Jaguaré e do rio Pinheiros. Trata-se de uma área antropizada em que podem ocorrer alagamentos (Mapa 3).

Outra área inundável detectada, e que envolve diálogos e decisões entre os dirigentes do Campus e a comunidade externa, refere-se ao riacho San Remo, junto à comunidade São Remo.

A situação torna-se ainda mais preocupante frente à situação de mudanças climáticas pela qual o planeta vem passando, em que se observam eventos de chuva mais intensos.

Mapa 3 — Área inundáve, 2024.

Qualidades e potencialidades

Foram identificados projetos capazes de ampliar a fluidez e a permeabilidade da água no Campus que têm entre seus vários objetivos o auxílio na redução da velocidade do fluxo da água nos eventos de chuva, tais como:

a) jardins de chuva;

b) biovaletas;

c) pisos permeáveis.

Há potencialidades para a implantação e divulgação de tais projetos (Mapa 4).

O destamponamento de alguns corpos d’água possibilitaria a convivência da comunidade com eles. É necessário analisar estratégias de contenção de águas nas cabeceiras para mitigar os alagamentos na planície de inundação.

Mapa 4 — Localização dos jardins de chuva, 2024.

Esgoto

A coleta e tratamento de esgoto no Campus são realizados exclusivamente pela companhia de saneamento e dirigidos para a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Barueri.

Problemas ou desafios

Não há levantamento ou mapeamento dos efluentes gerados no Campus.
O Campus não dispõe de uma estação de tratamento de esgoto. É preciso estar alerta a possíveis problemas de intersecção da rede de esgoto com galerias pluviais.

Qualidades e potencialidades

Há potencialidades para projetos que contribuam para o mapeamento e tratamento dos efluentes, bem como para desenvolver novas técnicas de tratamento de esgoto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises realizadas, as informações foram organizadas a partir de uso e ocupação, infraestrutura e gestão (Quadro 2); e da urgência/prioridade (Quadro 3).

 

Quadro 2 — Organização dos eixos relacionados à água segundo o uso e ocupação, a infraestrutura e a gestão. Elaboração: Equipe técnica GT Água, 2024.
Quadro 3 — Organização dos eixos relacionados à água segundo a urgência/prioridade. Elaboração: Equipe técnica GT Água, 2024.

Os resultados do levantamento das oficinas apontaram dificuldades e potencialidades. Entre as dificuldades, destacam-se: áreas sujeitas a alagamentos; manejo de áreas de nascente; distanciamento da comunidade dos corpos d’água. As principais potencialidades são: conscientização para a redução do consumo de água; desenvolver formas de reúso da água e aproveitamento da água da chuva; projetos de ensino e pesquisa envolvendo jardins de chuva, biovaletas e pisos permeáveis, entre outros.

Tanto as dificuldades quanto as potencialidades devem ser ponderadas frente à emergência climática. Para tal, será necessário implementar um sistema de governança da água no Campus. Sem isso, muito dificilmente o Campus atenderá às metas do ODS 6.

 

ACESSE OS RELATÓRIOS DA LEITURA CRÍTICA DE CADA GRUPO DE TRABALHO (GT)