GT7 - ÁREAS VERDES

LEITURA CRÍTICA TÉCNICA E PARTICIPATIVA

JULHO/2024

LEITURA ANALÍTICA: ÁREAS VERDES E FAUNA

Índice

A leitura técnica-análitica, aqui apresentada, baseia-se nos problemas e potencialidades elencados pela equipe técnica e contribuições dos diversos atores que participaram das oficinas do Plano Diretor. Destaca-se que o envolvimento da comunidade expressa preocupações, percepções e opiniões sobre as condições atuais do Campus, fundamentais na busca de soluções para as demandas, bem como o aproveitamento das virtudes apontadas (qualificadas e/ou quantificadas). 

ANÁLISES TÉCNICA E DAS OFICINAS

Um gráfico foi elaborado para analisar as contribuições da comunidade sobre áreas verdes e fauna, destacando os principais problemas e potencialidades identificados durante oficinas. Para melhor visualização, utilizou-se uma codificação dos assuntos no eixo vertical. A falta de manutenção das áreas verdes (D11) foi o tema mais citado, seguido por espaços mal arborizados (D7), com 41 e 38 menções de 327, respectivamente. 

Os dados foram agrupados em eixos temáticos, sendo que cinco eixos (T1 a T5) representaram 80,4% das contribuições. O T1 (planejamento, conservação e manutenção das áreas verdes) foi o mais abordado, com 38,1% das menções, incluindo relatos como os D7 e D11. Já os eixos T2 a T5 são mencionadas com: T2 (espaços livres e mobiliário urbano) com 19,8%, T3 (proteção da fauna) com 9,2%, T4 (educação ambiental) com 6,8% e T5 (conforto ambiental urbano) com 6,5%.

Figura 1 — Áreas verdes e fauna: leitura das oficinas participativas, 2024.
Tabela 1 — Códigos e descrições das oficinas participativas, 2024.
Figura 2 — Áreas verdes e Fauna: leitura técnica-analítica das oficinas participativas, 2024.

Planejamento, Conservação e Manutenção dos Espaços Livres

O Campus é um Oásis, com 924.836 m² de áreas verdes e ajardinadas, mais de 250.000 m² de reservas ecológicas e cerca de 33.000 árvores. Há uma necessidade iminente de um planejamento eficaz dos espaços livres, focado na conservação da biodiversidade, sustentabilidade socioambiental e uso dos espaços como laboratórios vivos para educação e pesquisa.

Figura 3 — Vegetação no Campus, 2024.

Os problemas e potencialidades identificados na leitura técnica também foram apontados nas oficinas. Árvores de grande porte podem causar problemas, como quedas de galhos e raízes soerguidas em pavimentos, os quais prejudicam a mobilidade e, em casos extremos, as árvores podem cair. Além disso, há plantios de espécies inadequadas e não autorizadas. 

Face ao exposto, os riscos e danos à comunidade e ao patrimônio relacionados à poda, manutenção do gramado e supressão de árvores foram destacados nas oficinas. Houve menções sobre a necessidade de padronização e calendário para a poda (3 fichas) e a falta de manutenção periódica das áreas verdes (41 menções). A supressão de árvores doentes foi elencada, nas contribuições descritas como na necessidade de estudos fitossanitários (13 fichas).

Deve-se manter a cobertura arbórea e priorizar o plantio compensatório de árvores nativas resilientes e adequadas para a coexistência de todos. Há uma minuta de Resolução, criada em 2016, que institui a Política de Áreas Verdes e Reservas Ecológicas da Universidade de São Paulo, mas ainda não foi implementada.

Acrescenta-se a necessidade de um inventário arbóreo que possa dar suporte efetivamente à política ambiental, o que foi abordado também nas oficinas com sete fichas (falta de sinalização e identificação das espécies florísticas) correlacionados a esse assunto. O inventário permite compreender a complexidade das áreas verdes e é essencial para identificar quais as prioridades de intervenção e assim, contribuir de forma efetiva para a gestão de florestas urbanas. 

A PUSP-CB realizou um inventário na Raia Olímpica, identificando 87 árvores, e planeja implementar um corredor ecológico. No entanto, o Campus necessita de um inventário e mapeamento completo das árvores, que possa facilitar o planejamento adequado no que tange, por exemplo, a “necessidade de aumentar a diversidade de espécies florísticas” (19 fichas). 

Duas contribuições interessantes, embora conflitantes, se referem aos “espaços e caminhos bem arborizados” (10 fichas) e “espaços e caminhos mal arborizados” (38 fichas). As virtudes evidenciam como o Campus é um diferencial se comparado ao entorno. Já as demandas, ressaltam que em alguns locais, ainda há espaços ociosos (estacionamentos) e caminhos com ausência de cobertura vegetal arbórea (Praça do Relógio) que prejudicam diretamente a mobilidade, bem como a convivência local. 

Figura 4 — Arborização Urbana no Campus, 2024.
Figura 5 — Fluxograma de Manejo Arbóreo utilizado pela PUSP-CB. Elaboração: Daniella Vilela Lima, 2024.

Reservas Ecológicas e Controle das Espécies Invasoras

O Campus possui fragmentos florestais e áreas de conservação que refletem a diversidade de ecossistemas brasileiros, como a Mata Atlântica e o Cerrado. No entanto, enfrenta desafios associados principalmente à remoção de árvores exóticas, mencionados também nas oficinas participativas: “necessidade de controle da presença de espécies invasoras” (16 fichas). Vale lembrar que as exóticas e invasoras causam impacto ambiental na nutrição da fauna local. O fruto da palmeira australiana (Archontophoenix cunninghamiana), por exemplo, é uma alimento para aves, mas com o passar dos anos, a espécie que tem crescimento rápido, tende a tornar-se dominante, excluindo espécies vegetais nativas. 

A RFIB foi considerada uma área de preservação em maio de 1973 e também a primeira, das cinco áreas delimitadas como “Reservas Ecológicas”, por meio de Portarias e Resoluções: Portaria GR 5.648 de 05 de junho de 2012; Resolução USP 6.577 de 19 de junho de 2013; Portaria GR 6.912 de 20 de junho de 2017.

Destaca-se que é imprescindível uma política de prevenção de incêndios florestais associados aos períodos secos. 

Outros assuntos mencionados nas oficinas (i) necessidade de implementar uma política de turismo ecológico (2 fichas) e (ii) iluminação e insegurança (4 fichas).

Figura 6 — Reservas Ecológicas no Campus, 2024.

Espaços Livres para Lazer e Ocupação

Diversos temas sobre áreas verdes foram elencados: aproveitamento para atividades da comunidade interna e externa (33 fichas); aumento de árvores frutíferas (16 fichas); criação de espaços de lazer e convívio (11 fichas); falta de espaços recreativos associados ao uso da água (11 fichas); ampliação de hortas (7 fichas) e melhoria da acessibilidade através das áreas verdes (6 fichas). Os dados confirmam problemas e potencialidades identificados, que incluem o impacto das ações humanas nas áreas de uso e visitação, e uso dos espaços verdes (jardins, parques, hortas comunitárias, pomares etc.) com possibilidade de promover o bem estar da comunidade.

Figura 7 — Localização das Hortas no Campus, 2024.

Monitoramento, Proteção e Preservação da Fauna Local

Virtudes associadas à temática: revisão e implementação da política ambiental para a fauna já elaborada e a conservação das reservas ecológicas, como medidas de proteção, para garantir a sobrevivência da fauna. Já as demandas se referem a: carência de sistemas de monitoramento da biodiversidade da fauna local; programas de preservação da fauna (criação de refúgios ecológicos e restauração de ecossistemas degradados) e a ausência de inventário faunístico abrangente. Cabe mencionar a importância do monitoramento de animais de interesse médico (por ex. mosquitos, barbeiro, escorpião-amarelo).

Os dados obtidos nas oficinas corroboram a leitura, destaque dos principais assuntos mencionados: necessidade de aumento de árvores frutíferas (16 fichas); faltam informações sobre a fauna e indicação de cuidado (14 fichas); necessidade de corredores ecológicos para a proteção da fauna (12 fichas). Outros assuntos mencionados: presença de população de saguis; alimentação indevida da fauna e conservar e aumentar a presença de aves. 

Figura 8 — Concentração faunística no Campus, baseada nos dados disponíveis no INaturalist, 2024.

Embora haja um número expressivo de estudos sobre a fauna local, observa-se a necessidade de mais dados georreferenciados. O livro “Aves no Campus” descreve 152 espécies de aves na USP. E o Projeto “Fauna da USP – CUASO”, baseado em contribuições da comunidade, identificou aproximadamente 1600 espécies de animais (anfíbios, aracnídeos, aves, insetos, mamíferos, répteis etc.). Desse levantamento, 843 estão catalogadas como nível seguro de pesquisa no GBIF (Sistema Global de Informações sobre Biodiversidade).

Figura 9 — Exemplos de espécies faunísticas no Campus. Fonte: Site USP. Figura elaborada em 2024.

Monitoramento e Manejo Adequado da Fauna Sinantrópica

Este assunto está intimamente associado: à necessidade de estratégias para o controle e manejo adequado da fauna sinantrópica, incluindo ações para evitar a proliferação de animais como ratos, baratas, mosquitos, escorpiões etc; ao monitoramento de doenças e seus vetores, ou sejam campanhas para eliminar criadouros de mosquitos e medidas preventivas contra vetores, como o Aedes aegypti (vetor do vírus da Dengue, Zika, Chikungunya) e o barbeiro (vetor do protozoário Trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas) e à falta de controle frequente da desinsetização e desratização das edificações. Destaca-se ainda a importância da conservação da biodiversidade local, evidenciada pela presença de abelhas sem ferrão, essenciais para a polinização no Campus.

As fichas das oficinas confirmam as demandas: falta de controle de vetores e de população de animais (4 fichas); não há rotina de vigilância de criadouros do mosquito (7 fichas); presença de escorpiões, aranhas e roedores (10 fichas) e presença de insetos potencialmente perigosos (4 fichas). A PUSP-CB realiza o controle de vetores e animais sinantrópicos, como a aplicação de biolarvicida em bocas-de-lobo da rede de captação de água pluvial. No entanto, a comunidade parece não estar ciente, evidenciando a necessidade de melhor comunicação. 

Figura 10 — Abelhas sem ferrão - Meliponíneos, 2024.
Figura 11 — Pontos de Aplicação de Biolarvicida, 2024.

Animais Abandonados e/ou Ataques de Cães Ferais

Um grande problema identificado pela leitura técnica refere-se ao abandono de animais no Campus e ataques de cães ferais, que também foi mencionado pela comunidade (8 fichas). A fiscalização da soltura de animais domésticos (cães e gatos) é bastante difícil por parte da guarda universitária. Salienta-se que durante muitos anos a PUSP-CB manteve um canil com animais soltos, mas o custo elevado de manutenção e falta de funcionários, levaram a uma desativação progressiva. Estes animais podem se alimentar da fauna nativa, pequenos mamíferos e aves que nidificam no solo e, atacar pessoas que caminham próximas às áreas que ocupam. Além disso, têm sido alimentados pela comunidade e por pessoas externas ao campus, garantindo a sobrevivência e reprodução.

Conforto Ambiental Urbano

O conforto ambiental urbano tem relação com Ilhas de calor, fenômenos que ocorrem principalmente em espaço urbano, no entanto, o Campus é considerado uma grande área de frescor em relação ao seu entorno. Na leitura técnica ressaltou-se que o desconforto térmico está associado: à falta de arborização em determinadas regiões (estacionamentos, Praça do Relógio etc), assim como à cobertura vegetal incipiente e ao excesso de concreto etc. Os dados obtidos nas oficinas evidenciam a leitura: conforto ambiental urbano (36 fichas) ou ainda, indiretamente relacionados: necessidade de qualificar e ampliar as coberturas para pedestres (4 fichas).

Figura 12 — Ilhas de Frescor e de Calor, 2024.

Educação Ambiental

Na leitura técnica foi abordada a necessidade de programas de educação ambiental que sensibilizem a comunidade sobre a importância da conservação do meio, bem como a coexistência harmoniosa com a fauna local. Os dados das oficinas confirmam a leitura: acúmulo de lixo orgânico, galhos e podas (4 fichas); ausência de ações para a implantação de serviços ecossistêmicos (3 fichas) e falta de cursos, treinamentos e campanhas informativas sobre a fauna (2 fichas). 

CONSULTA ONLINE

Os dados online evidenciam que o “planejamento, conservação e manutenção das áreas verdes” foi a temática mais abordada (36,6%), seguida por “espaços verdes: convivência e mobiliário urbano” (26%). Já a terceira temática refere-se ao “abandono de animais e/ou ataque” (17,1%), que diverge da quantificação tabulada para as oficinas presenciais (orientação, proteção e/ou preservação da fauna).

Figura 13 — Percentual dos eixos temáticos mais citados na consulta online, 2024.

INTERSECÇÃO COM OS DEMAIS GRUPOS DE TRABALHO

A convivência foi a temática com maior intersecção com as áreas verdes, com 36,2%. Destacam-se assuntos associados à criação de novos espaços de convivência e socialização nas áreas verdes, como praças e espaços arborizados. Esses espaços são vistos tanto como uma potencialidade, devido à abundância de áreas verdes que facilitam a convivência comunitária, quanto como uma problemática, devido à carência de tais espaços em algumas áreas. Sugere-se adotar programas e atividades de educação ambiental para promover o entendimento da biodiversidade no Campus.

A segunda temática com maior intersecção refere-se ao patrimônio (27,7%), e evidencia a necessidade de um inventário do patrimônio natural/ambiental, o qual viabiliza a implementação de ações voltadas para o ensino, pesquisa e extensão, assim como para os serviços ecossistêmicos.

A mobilidade foi a terceira temática com mais intersecção (17,7%), associada à criação de caminhos arborizados para pedestres e ciclistas, integrados ao transporte público e privado. Essa iniciativa visa melhorar a estética urbana, qualidade do ar e conforto ambiental. É essencial um planejamento adequado da arborização para preservar as calçadas e garantir a mobilidade adequada.

A intersecção com a temática Água refere-se a 7,7% e trata da readequação de nascentes, locais de inundação (presença de escorpiões) e o monitoramento de criadouros de mosquitos. Também destaca a integração de políticas ambientais para proteger os recursos hídricos.

Na relação com a temática de resíduos (6,2%), destaca-se a necessidade de coleta adequada dos resíduos da poda de árvores e sua utilização em projetos de pesquisa. 

E a temática energia teve 4,6% de correlação e abrange: iluminação do Campus de forma a torná-lo mais seguro, considerando a presença das reservas ecológicas, e sustentabilidade climática, que envolve a conservação ou implantação de mais áreas verdes para enfrentar as mudanças climáticas e assim reduzir a dependência de ventiladores e ar-condicionado.

Figura 14 — Intersecção do GT7 com os demais grupos de trabalho, 2024.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

A leitura técnica-analitica confirma a necessidade de um plano diretor a fim de implementar práticas e estratégias adaptativas e assim, diminuir os impactos ambientais da interação humana com as demais espécies da biota local, que incluem uma coexistência harmoniosa e a adaptar-se aos eventos catastróficos associados ao aquecimento global e, consequentemente, mudanças climáticas.

ACESSE OS RELATÓRIOS DA LEITURA CRÍTICA DE CADA GRUPO DE TRABALHO (GT)